As relações familiares, são as relações que mais nos ficam na memória.
Embora os laços entre pais e filhos sejam muito fortes, existe um laço que me intriga, não só pela sua força, mas também pela sua facilidade em criar coisas novas pelos seus intervenientes enquanto seres, refiro-me aos laços tão entrelaçados entre avós e netos.
No verão passado(2009),os meus filhos(Miguel e Micaela) conheceram pela primeira vez o seu avô paterno, bem como o país em que ele habita, a Roménia, a comunicação oral não foi fácil, mas sempre tinham o pai para dar uma ajuda na tradução. A adaptação à nova cultura, bem como aos hábitos e à língua foram graduais e no final das férias já era como se estivessem em casa.
No verão de 2010 fomos novamente à Roménia, desta vez fui sozinha com os meninos, e tal era a excitação que numa viagem de 3 dias de autocarro não vi um sinal de cansaço ou exaustão por parte deles a única pergunta repetitiva do Miguel era: “Quem é que nos vai buscar?É o bonic1,é o bonic?”Chegando à Roménia,depois de um banho relaxante, fomos presenteados como uma sopa de cartof2 e uns pimentos recheados feitos pela minha sogra. Depois de uma tarde e uma noite bem dormidas, já os meninos tinham tomado o pequeno almoço, levanto-me e deparo-me com algo no mínimo “estranho” naquela casa, o meu sogro estava a apanhar a roupa da corda e tinha um “ajudante” especial o Miguel. Fui para a cozinha tomei o pequeno almoço na companhia da minha sogra e quando estava a beber o café, ao mesmo tempo que lhe mostrava as fotos da viagem na minha máquina fotográfica perguntei-lhe porque estavam aqueles dois “machistas” a apanhar a roupa (na Roménia ainda está muito enraizado aquela situação em que “existem” tarefas que são só das mulheres e vice-versa), nesse instante o Miguel abre a porta da cozinha e grita: “SURPRESA”, puxa a mão do avô, e com ar muito maroto apresenta nos o avô vestido com o soutien da avó que ele lhe havia colocado. Ao ver o meu sogro com aquele ar de “tenho que me aguentar porque NÃO, não é resposta aceite pelo miúdo”, agarrei na máquina e capturei aquele momento em que mostra a tal facilidade em criar coisas novas enquanto seres na relação de avós e netos, pois em casos ditos de “normais” nunca o meu sogro teria tido uma acção tão “efeminada”, como apanhar a roupa e muito menos colocar aquele vestuário exclusivamente feminino com um ar de quem gostou da brincadeira.
1Avô (em romeno)
5 responses to “entre gerações”
mari e Lyly
11 de Novembro, 2010 às 15: 42
Que linda história 🙂 Valeu Blondy por ter partilhado este momento conosco… esta toca começa agora a ter vida… iupiiii
Lyncoln
12 de Novembro, 2010 às 18: 10
é muito lindo perceber que muitas coisas que achamos duras em nós, ou nos outros, coisas que parecem que não mudam, conseguem ser alteradas , territórios como o machismo sendo penetrados por uma brincadeira entre avó e neto, é incrível o acesso que as coisas têm… adorei ler Blondy!!!
Juju
13 de Novembro, 2010 às 18: 14
Gosto de sentir na sua história que a vivência e o aprendizado dos temas como o “machismo” por exemplo, tornaram-se compartilhados desde muito antes, na sua presença, a ponto de sacar a foto no momento em que o espaço se abriu com carinho… Gosto muito e quero ler e ver mais!!!
Carla Marina Santos
14 de Dezembro, 2010 às 00: 15
Olá Cara Amiga,
Não posso deixar de felicitar o Projecto TOCA e acima de tudo a tua envolvência em todo este processo e muitos outros que passaram e que não morreram!
Acho que que o teu contributo pode e deve ser muito mais profundo ajudando, toda a equipa técnica ligada a estes movimento, a chegar a outros públicos com uma linguagem mais próxima e legitima!
Posso dizer que quem trabalha em intervenção social convive com um factor muito importante: LEGITIMAÇÃO!
Quem a tem? Quem a conquista? Quem a sabe usar?E o que faz com tudo isso?
Pois bem…
Fora tudo isto queria, e depois de ler a tua história posso apenas dizer na qualidade de Antropóloga, há certos conceitos e categorias que na esfera do particular, familiar e acima de tudo nas relações avô-neto perecem!
E o mais interesseante é saber usar estes momentos para a reflexão!
Para concluir peço e desejo que Aconteça o que Acontecer os teus músculos se desenvolvam, dubando ou não possas contar a tua história, possas partilhar com os demais e preferencialmente que esse Know-how seja limado numa lógica mais interventiva e enquadrado num Projecto.
Keep on Going
Carla Santos
Carla Marina Santos
14 de Dezembro, 2010 às 00: 16
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