Imaginei sair de casa e ir até ao C.E.M sem haver um único coração a bater no caminho,a casa sem ninguém, a rua sem ninguém, o autocarro sem ninguém, o metro sem ninguém, a praça da figueira sem ninguém, o C.E.M sem ninguém.. De repente senti medo, angustia, pois naquele silencio tenebrososo os únicos sons que ouvia eram o acelerado bater do meu coração na ansiedade de encontrar alguém e os meus pensamentos.

Dou-me conta de que todos os que tocam os nossos caminhos fazem parte da nossa história e da nossa existência, senti falta daquilo que mais me enerva, o som alto da televisão assistida pela Micaela, o bater da bola lançada pelo Miguel contra a parede, as implicâncias do meu companheiro, os ralhetes rabugentos da minha mãe, o olhar cuscuvilheiro da senhoria, as histórias e lamentos no autocarro, os passos acelerados no metro,o frenesi da praça da Figueira, aquela musica da Mariana, os falares uns sobre os outros das mulheres e até a minha própria voz.

Entendi, que embora caminhos diferentes, pessoas diferentes, as que conhecemos e as que não conhecemos,musicas diferentes, maneiras de ser diferentes, todos balançam em conjunto como um só, num circulo que se abre deixando surgir histórias e que se fecha criando um vazio central como se fosse um refugio que pode ser ocupado por qualquer um ou por todos.

 

Deixamos de ser EU e os Outros e passamos a ser Nós,tocamos o espaço, o caminho, as pessoas, os corpos, as musicas, as histórias, a vida.
Esta história não é minha é nossa!!!